Entre os dias 19 a 24 deste mês de abril, o Núcleo de Criação do Dirceu apresentou a temporada de mais uma de suas obras inquietantes, desta vez a regalia é um infantil intitulado “Menu de Heróis” , dramaturgia de ..bem deixamos esta categoria de fora, mas tem uma direção que melhor se adéqua aqui ao termo de concepção da bailarina, digo, da interprete criadora Weyla Carvalho, aquela que dançava no balé da cidade, lembram? O elenco, ou melhor, os intérpretes criadores são: Cleyde Silva, quem? Jacob Alves, o folder diz que além de interprete ele é especialista em iluminação, Soraya Portela..., Layane Holanda, a irrequieta e aniquiladora do que não presta, prova isso já no folder do espetáculo que assim aqui posso dizer que é uma das coisas que o trabalho tem como a cereja do bolo; Alexandre Silva, o folder destaca seus vídeos no youtube. A trilha sonora é outro ponto que merece aplausos, pois é de um requinte Cult do que se ver em trabalhos de lugares mais descolados no assunto, ao contrario do teatro convencional eles aqui ensaiam com outro integrante fora a direção, segundo o folder quem comanda é Janaina Lobo. Por fim o resultado do trabalho que convidou uma platéia mista a prestigiar a temporada com entrada franca varia do publico alvo (crianças) a artistas que obviamente captam a informação do trabalho com um olhar bem distanciado do olhar das crianças. O elenco com um figurino concebido ao formato de improvisado, como os que na velha infância agente dizia: “vamos brincar lá no quintal” depois de assistir o Jiraya ou o Jaspion, etc... E a imaginação explodia na cacholinha pulando de cima do pé de goiaba podendo ser qualquer ser que quisesse e a confusão estava feita quando algum coleguinha ousasse dizer que seu herói era o mesmo que o meu. Esse é apenas um relance do que se passa no mundo lúdico ilimitado das brincadeiras de criança, o espetáculo mostra exatamente isso, e só. São aproximadamente 50 minutos de vamos ver os interpretes brincarem de ser criança como resultado de um espetáculo concebido.
Enquanto proposta é inquestionavelmente a invejável sacada assim como digna de aprovação em qualquer lei de incentivo, pois temos aí interesses que passam bem distante dos que realmente deveriam executar na prática, ou seja, o grupo faz um convite para brincar de ser o que quiser a partir de coisas simples, olhando para o que está a nossa volta de outro jeito, e o jeito foi fazer um espetáculo sem texto, sem o figurino da Aureni ou da Edite, sem a trilha sonora da Xuxa, sem o painel de fundo com o desenho do Castelo de Glasgow, sem nenhum tecido de cetim a La Grupo Raízes e muita bagunça e gritaria trabalhada a La Sergio Matos o que prende incessantemente o publico infantil que pela curiosidade talvez gritem também durante o trabalho a fim de conseguir o mesmo tom do elenco.
Como recursos cênicos os interpretes se utilizam do multiuso garrafa péti, do corpo, caixas de papelão e isopor e duas cadeiras rolantes que me fez lembrar o tempo que vovó lavava a casa com sabão em pó e eu aproveitava o chão liso para sair deslizando deitada e gritando até chegar com a cara e a boca na parede, o que terminava com ralões, mertiolates, sopros e choradeiras escandalosas nos mais diversos tons.
Agora o que me deixou incomodada foi a falta de hegemonia interpretativa dos intérpretes, digo no seguinte aspecto: ou eu vou para interpretar ou eu vou para fazer marcas. Mas parte do elenco parece esquecer que o trabalho queira sim, queira não, expõem ações dramáticas de uma personagem, o que curiosamente não demonstra ser obedecido pelos interpretes masculinos e pela interprete Cleyde Silva, se alguém discorda creio que temos duas soluções, ou a direção exija que as interpretes Layane e Soraya parem de interpretar as crianças ou então que o restante siga o mesmo das duas; pois o que vemos são duas excelentes atrizes Layane e Soraya, presenças extremamente expressivas em olhar e em corpo, impossíveis não atrair o olhar para estas duas artistas opostas; poderíamos até dizer que estas sim são a carga de força do espetáculo.
O que dizer do elenco masculino? Dois interpretes sem personagem pré concebidos obedientes ao que se tem que fazer no palco, obedece direitinho, mas também é só. Enquanto um extrapola as energias aos saltos que invejado pelas crianças, o outro não possui resistência nenhuma passando toda uma fadiga de ver aquele corpo aparentemente cansado o que não se ver no trabalho de Soraya, nem mesmo com o figurino mais volumoso do elenco.
Ao final do espetáculo, o elenco arrisca uma pitada de dança numa coreografia singela e espontânea apresentando o cartão de poderes de cada herói desse jogo. Aos grandes, muitos momentos de comicidade, de recordar que era assim mesmo que se brincava e que ainda se brinca. Aos pequenos, eu poderia dizer que vi no olhar de algumas a frase “olha, eles estão tirando onda de como agente faz”. Mas é uma pena que a concepção pegou do recorte apenas o lado agressivo de todo esse mundo infantil deixando de fora o lado do bem da meninada. E foi isso que eu vi no Menu. Estão servidos?